Em 1896, o médico W. Pringle Morgan, em Sussex, Inglaterra, publicou a primeira descrição do distúrbio de aprendizagem que viria a ser conhecido como dislexia do desenvolvimento. Morgan escrever no British Medical Journal: “Percy F, 14 anos (…) sempre foi um menino brilhante e inteligente, rápido em jogos e de modo algum inferior a outros de sua idade. Sua grande dificuldade tem sido e agora é sua incapacidade de aprender a ler”.
Morgan captou o paradoxo que intrigou e frustrou os cientistas por um século desde então: as dificuldades profundas e persistentes que algumas pessoas muito brilhantes enfrentam ao aprender a ler.
A dislexia é um distúrbio de aprendizagem, o que acarreta dificuldades em certas habilidades para aprender, como ler e escrever. Ela está presente entre 5% e 17% da população mundial, podendo afetar a área visual e auditiva.
Na prática, as pessoas que não têm dislexia utilizam três áreas do cérebro enquanto leem. A primeira faz a identificação das letras, a segunda parte faz com que entendamos o significado da palavra. Por fim, uma terceira área processa todas essas informações. Em uma pessoa com dislexia, as duas primeiras áreas são menos ativas. Em compensação, a parte frontal é obrigada a trabalhar mais e até o lado direito do cérebro é ativado.
Segundo a International Dyslexia Association (IDA), essas dificuldades geralmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e não visual. Embora seja uma condição neurológica, a dislexia não está ligada à inteligência e outras habilidades cognitivas. E seus efeitos variam de pessoa para pessoa e independem da idade. O único traço compartilhado entre as pessoas com dislexia é que elas leem em níveis mais baixos do que os esperados.
Na verdade, a dislexia é uma dificuldade inesperada na leitura de uma pessoa que tem inteligência para ser uma leitora muito melhor. Enquanto as pessoas com dislexia são leitores lentos, muitas vezes, paradoxalmente, são pensadores muito rápidos e criativos, com fortes habilidades de raciocínio.
A maioria das pesquisas indicam que a origem multifatorial da dislexia, isto é, suas causas podem ser genéticas e ambientais.
Os sintomas da dislexia incluem:
Na primeira infância
- Dispersão
- Falta de atenção
- Atraso da fala e linguagem
- Dificuldade em aprender rimas e canções
- Atraso na coordenação motora
- Falta de interesse por livros
Na idade escolar
- Dificuldade na aquisição e automatização da leitura e escrita
- Desatenção
- Dispersão
- Dificuldade em copiar de livros e lousa
- Desorganização geral (dificuldade em manusear mapas, dicionários)
- Dificuldade em ler em voz alta e compreender aquilo que foi lido
- Baixa estima
Os tipos mais comuns de dislexia são:
- Dislexia visual: dificuldades em diferenciar os lados direito e esquerdo, erros na leitura devido à má visualização das palavras
- Dislexia auditiva: ocorre devido a carência de percepção dos sons, o que também acarreta dificuldades com a fala
- Dislexia mista: é a união de dois ou mais tipos de dislexia. Com isso, o portador poderá ter, por exemplo, dificuldades visuais e auditivas ao mesmo tempo
Uma equipe multidisciplinar composta por fonoaudiólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos é ideal para atender crianças, adolescentes e adultos que apresentam dislexia. O diagnóstico, orientação e apoio precoces podem ajudar a reduzir seus impactos.
Referências:
http://dyslexia.yale.edu